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EDUCAÇÃO

Escola Municipal Maria L. Carneiro

GERAL

Escola polo de surdos ensina a linguagem da inclusão em Criciúma

Em uma sala, Marcos Vinícius dos Anjos Goulart, de 12 anos e Tuany Ribeiro, 12 anos, aprendem com a professora Silvia Vitali a Língua Brasileira dos Sinais (Libras). Uma língua que abre, para eles, as portas do mundo através da comunicação.

Antes de iniciar os estudos na Escola Municipal Professora Maria De Lourdes Carneiro em Criciúma, Marcos tinha poucos amigos.  “Eu tinha um ou dois amigos. Aqui eu tenho vários amigos. Era ruim para aprender. Quando cheguei aqui a escola era muito bonita e consigo aprender melhor”, afirma empolgado o estudante do 7º ano que possui deficiência auditiva, ou seja, consegue ouvir um pouco.

Da mesma forma, Tuany comenta que adora estudar no local. Surda, desde menor ela estuda Libras. “Consigo aprender muito aqui. É diferente”, comenta a estudante do 7º ano.

Desde 2018, a escola do bairro Vila Francesa, no Distrito de Rio Maina, é polo na rede municipal para o ensino de surdos. Trabalho que ganha destaque, neste sábado, dia 23 de abril, quando é comemorado o Dia Nacional da Educação para Surdos. Já no domingo, 24 de abril, é celebrado o Dia Nacional da Língua Brasileira de Sinais (Libras).

Como escola polo, todos os estudantes considerados surdos ou com deficiência auditiva em Criciúma do 1º ao 9º devem estudar na escola. Independente do bairro onde moram. Por isso a Secretaria de Educação fornece o transporte para esses alunos. Dos 450 estudantes do local, 25 são surdos. “Só não temos alunos surdos no 4º ano”, comenta a diretora da Maria de Lourdes, Daniela Rosso Miranda Santos.

Por esse motivo, além dos cinco professores bilíngues em libras, os professores devem aprender pelo menos o básico de Libras. Como está fazendo a professora de matemática, Sandra Crestani. Há 12 anos lecionando, ela começou na Maria de Lourdes este ano.

“Encarei como uma coisa boa, porque primeiramente é um direito que eles têm de ter educação. Eles têm uma energia muito boa. Aprendemos muito com eles. O desafio está sendo bem grande. Como temos intérpretes na sala, eles nos auxiliam bastante. Sinto falta de dialogar diretamente, ainda não consigo”, conta ela.

Por isso, todas as quartas-feiras a noite, a professora do 6º, 8º e 9º ano fica na escola para aprender Libras. As aulas são ofertadas para professores e pais de alunos que queiram aprender a linguagem dos sinais. Já nas segundas-feiras, são as aulas para quem está mais avançado.

“É uma linguagem difícil de aprender. Eu já consigo me comunicar, não sou fluente, mas consigo me comunicar com as crianças. Sempre dependia de professor intérprete para me comunicar até nas coisas básicas. Eu acho importante o professor saber, não precisa ser fluente, mas tem que ter essa comunicação. Por isso eu fui fazer libras”, lembra o professor de Educação Física da escola, João Reck, que cursou Libras por três anos.

Aula de libras para os alunos 'ouvintes'

Além dos professores e pais, uma ação importante no início do projeto e que segue até hoje é a aula de libras duas vezes por semana no início das aulas. O ensino é focado, principalmente, nas palavras básicas do cotidiano para todos os alunos da escola. Principalmente, os chamados ‘ouvintes’. Uma forma encontrada para levar a inclusão para dentro da sala e toda a escola.

“Só o fato de colocar libras no início das aulas fez toda a diferença”, afirma a diretora. “Hoje os alunos conversam entre eles. Aqui não temos aquela coisa de uma sala só para surdos, que muitas vezes as pessoas podem pensar isso. Eu tenho salas com três surdos, com um. Se tu estás com eles na hora do recreio tu não consegue distinguir se é surdo ou ‘ouvinte’, porque os ‘ouvintes’ conseguem se comunicar em libras com os demais”, completa.

Além disso, no início do projeto, em uma parceria com o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), toda a escola foi adaptada. Desta forma, quando toca o sinal de troca de aulas além do aviso sonoro, existe o sinal visual para avisar os alunos surdos.

“O objetivo do projeto era estar reunindo todos os estudantes surdos em uma mesma unidade de ensino para eles poderem estar com seus pares, poderem estar fazendo o uso da língua. Para isso organizamos uma resolução que garante o transporte. Temos estudantes de todos os bairros de Criciúma nessa escola”, explica a coordenadora da Educação Especial na Educação, Úrsula Silveira Borges.

Atendimento especializado no contraturno

Muito mais que as aulas regulares. A alfabetização tanto em libras quanto no português é uma prioridade. Por isso os alunos surdos da escola recebem um Atendimento Educacional Especializado (AEE) no contraturno das aulas de forma alternada.

Duas vezes por semana eles ficam na escola ou vem no período da manhã para terem uma aula de libras e, posteriormente, de português. “Eles ganham o almoço e ficam na escola em período integral nesse dia”, ressalta a diretora.

A professora que ensina a Libras, também, é surda. Silvia Vitali está no AEE da Maria de Lourdes Carneiro desde o início do projeto. “Aprendo muita coisa com eles. Muitos não sabem Libras e os ensino. Me sinto muito bem e feliz aqui”, diz a professora.

Início difícil

Passados quatro anos do início do projeto de transformação da Maria de Lourdes Carneiro, a diretora lembra do início difícil. Já que até 2018, a escola não possuía nenhum aluno surdo. Porém, mesmo assim, aceitou o desafio proposto pela Secretaria de Educação.

“Decidimos embarcar coletivamente nesse desafio. Realmente foi um desafio muito grande e ainda é todos os dias. 2018 foi um ano marcante. Acho que recebemos 13 estudantes surdos oriundos de vários bairros diferentes”, relembra. “Hoje quatro anos depois são cerca de 25 alunos”, finaliza.

(Texto e fotos Lucas Colombo)

 

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