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Família é a maior preocupação na linha de frente da covid-19, segundo Enfermagem Solidária

Na madrugada, no silêncio dos plantões, a inquietude aflora. A experiência com plantões noturnos motivou o enfermeiro Claudio Mann, a optar pelo horário quando aderiu ao Programa Enfermagem Solidária. A iniciativa do Sistema Cofen/Conselhos Regionais, colocada à disposição dos profissionais de Enfermagem desde o dia 26 de março, é um canal de atendimento 24 horas que conta com a participação voluntária de mais de 150 enfermeiros especialistas, mestres e doutores em saúde mental.

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“Qualquer um de nós está sujeito a sofrimento psíquico. Quanto mais cedo buscarmos ajuda, mais rápido sairemos deste quadro”, pontua Mann doutor pela Fiocruz. Para Mann, o Enfermagem Solidária foi uma oportunidade não apenas de ajudar os colegas da linha de frente do combate à covid-19, mas também “se reinventar como profissional”. “Não ter o contato físico, o olho no olho, é um desafio”, avalia.

Coordenadora do setor de Saúde Mental da Secretaria de Saúde de Criciúma/SC, a enfermeira Ana Losso também se voluntariou para apoiar os colegas. “A Enfermagem tem o cuidado como mote principal do seu trabalho e não existe Saúde sem Saúde Mental”. Ana aponta que “a pandemia tem produzido um sofrimento mental nunca antes experienciado com tanta intensidade”.

“Lidar com o desconhecido, as mudanças no processo de trabalho, as incertezas do amanhã, o medo de ser um vetor de transmissão, a sobrecarga emocional de ver tantas mortes sem poder fazer muita coisa tem sido as principais queixas trazidas pelos profissionais atendidos. O fato de ter que ficar afastado dos filhos ou pais, longe do contato com os amigos, também gera insegurança e tristeza”, avalia Ana.

A possibilidade de oferecer cuidado e escuta empática foi o que atraiu a enfermeira Andrea Alves, mestre doutoranda em Enfermagem psiquiátrica na Universidade de São Paulo (USP), para o programa. Andreia conta que os anseios apareceram de diferentes maneiras. “A preocupação inicial era principalmente com a falta de equipamentos de proteção individuais (EPIs), mas com o decorrer dos dias foi possível ver uma preocupação intensa com os seus familiares, era algo que lhes traziam intenso sofrimento psíquico”, conta. Com o avanço da pandemia, a perda de colegas de trabalho e o medo da morte foram temas cada vez mais presentes nos atendimentos de Andreia, que também relata sofrimento pela exaustão física e mental.

Famílias em risco – A preocupação com a família tem sido uma constante nos atendimentos. Oito em cada dez profissionais que buscam os serviços são mulheres, muitas vezes principais provedoras de famílias com filhos pequenos. 53% são negras (pretas e pardas). O veto presidencial do Projeto de Lei 1826/2020, que estabelecia indenização para profissionais de Saúde incapacitados pela covid-19 e familiares dos mortos, aumenta a vulnerabilidade das famílias. Dados do Observatório da Enfermagem registram 396 mortes entre os profissionais e mais de 37 mil casos reportados de covid-19.

Pionerismo e Solidariedade – Coordenadora da Comissão Nacional de Saúde Mental do Cofen e idealizadora da Programa Enfermagem Solidária, a enfermeira Dorisdaia Humerez conta que se surpreendeu com a adesão instantânea de voluntários. “Foi preciso criar, quase instantemente, uma rede de proteção, e isto só foi possível graças à solidariedade, demonstrando a união da profissão e a capacidade de se reinventar na adversidade”, afirma.

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Em junho, a iniciativa foi ampliada para os profissionais de Radiologia (tecnólogos, técnicos e auxiliares), atendendo a uma solicitação do Conselho Nacional de Técnicos de Radiologia (CONTER). Doris conta que, com o avanço da pandemia e surgimento de novos canais de atendimento, o programa finaliza seu ciclo. Já são mais de 5 mil atendimentos, que prosseguem até 20 de setembro. (http://www.corensc.gov.br/Ascom – Cofen)

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